O cômico, como bem afirma Patrice Pavis, é um fenômeno que
pode ser aprendido por vários ângulos em diversos campos. Fenômeno
antropológico, responde ao instinto do jogo, ao gosto do homem pela brincadeira
e pelo riso, à sua capacidade de perceber aspectos insólitos e ridículos da
realidade física e social.
Kant definia o riso como “o afeto proveniente da
transformação súbita de uma expectativa muito tensa que acaba em nada”. Depois
dele, associou-se o cômico a ideia de uma ação deslocada de seu local habitual,
criando um efeito de surpresa.
No teatro, a situação cômica advém de um obstáculo
dramatúrgico contra o qual se chocam as personagens, conscientemente ou não. Tal
obstáculo, construído pela sociedade, impede a realização imediata de um
projeto, concorda com os maus ou com a autoridade: o herói tropeça nele sem
cessar e seu fracasso se assemelha a um choque físico contra uma parede.
Contudo, o conflito – esta é a diferença capital em relação à
tragédia – pode ser posto de lado, para dar, em seguida, livre campo aos
protagonistas. Muitas vezes, aliás, o conflito é instalado pelas vítimas.
“Desde o início dos tempos, o riso foi e ainda é utilizado
como elemento ritual para espantar o medo, especialmente o medo da morte”.
Durante muitas apresentações do Professor Clown criei situações que pudessem
tirar o medo de algumas crianças de palhaço.
Uma delas foi mostrar que o palhaço é gente. E isso acontecia
quando eu começava o espetáculo me transformando na frente deles. A maquiagem,
o figurino, os adereços, tudo era colocado ali, no palco, para que depois eles
vissem o homem por trás do palhaço e o palhaço por trás do homem.
O clown nunca interpreta, ele simplesmente é. Ele não é uma
personagem, ele é o próprio ator expondo seu ridículo, mostrando sua
ingenuidade. “O palhaço é pessoal e único, amplo demais para ser fixado em um
tipo ou em uma maneira única de se comportar.
O que fascina o
público quando vê um palhaço atuando é sua “inteireza”, o prazer com que
executa seu número e sua capacidade de estar presente e vivo em cada
microssegundo de sua passagem pelo palco.
Se o palhaço possui essa “inteireza” e prazer de existir, ele
vai surpreender a plateia, provocá-la e conduzi-la do sorriso à gargalhada. E
cada pessoa do público sairá coma sensação de ter feito parte do espetáculo”.
A aceitação e a crença no jogo estabelecido entre o clown e a
plateia é como se ambos, ator e público, cada um com seu remo, guiassem uma
mesma canoa, interligados, conduzindo a ação. Quando o jogo e a cumplicidade se
estabelecem, ator e espectador caminham lado a lado, num fluxo constante.
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